quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Morto o bicho, acaba-se a peçonha

Existe uma espécie no mundo animal que é muito frágil. É a espécie mais dependente de toda a natureza. Os bichinhos dela demoram quase um ano para nascer e depois, por mais três, a única maneira de sobreviverem é com a ajuda de um semelhante, de preferência sua mãe. Mesmo depois de três anos de vida, os pobres animais só sobrevivem digna e decentemente se um outro estiver sempre por perto. Porém, se forem bem cuidados, podem viver em média 80 anos.

Esse bichinho nasce pequeno e sensível, muitas vezes sem pêlo algum. Em seus primeiros anos ele sente muito frio e, por isso, precisa ser enrolado numa espécie de casulo que é feito e refeito por sua mãe todos os dias. A mãe deve ser muito atenciosa ao filhote, pois qualquer mero problema pode causar a morte do pequeno muito rapidamente.

Essa espécie não tem garras e nasce sem dentes, eles só surgem depois de pelo menos um ano de vida e isso faz com que eles, em seus primeiros meses, só comam um tipo de papa feita por aqueles que os criam. Seus dentes nascem aos poucos e a arcada é muito frágil, por isso começa a ser trocada por volta de sete anos. Depois dos 50, eles voltam a cair. A espécie também não anda no primeiro ano e só consegue caminhar perfeitamente depois de dois. Também só depois desse tempo consegue comunicar-se bem com seus semelhantes, antes disso apenas emite sons ininteligíveis.

É um animal muito temperamental. E, talvez por ser muito depende fisicamente de seus semelhantes nos primeiros anos, se torna muito dependente emocionalmente em TODOS os outros anos. A maioria deles só anda em grupo e precisa da aprovação dos outros para tudo que faz. Os que, por algum motivo, não tomam essa atitude, costumam ficar escondidos, e são de difícil acesso e estudo. Vivem à margem do bando e, como se tivessem alguma anormalidade, não são bem aceitos entre os outros.

Em média, entre os 13 e os 20 anos de vida começam a procurar por parceiros. Entre os 20 e os 30 já tiveram (ou têm) vários parceiros. Entre os 30 e os 40 tentam se estabilizar com apenas um. Dos 40 aos 50 pode variar, alguns se mantém fiéis aos que já têm e outros tentam voltar aos tempos áureos dos 20. Dos 50 em diante são considerados “velhos” por seus semelhantes. Este é um momento muito singular que pode resultar em reclusão total, parcial, ou uma busca alucinada pelos atos da juventude passada. Alguns, ainda, nem tanto ao céu nem tanto à terra, conscientes de suas restrições físicas, mantém uma vida ativa, sem, no entanto, exagerar demais. Alguns, como os elefantes, para não atrapalhar a vida do grupo, morrem sozinhos, mas nem sempre por opção própria.

(Espécie ingrata, você pensará. Passou grande parte de sua vida dependendo de mais velhos. E quando estes estão “velhos demais”, os levam para lugares distantes e os abandonam... Mas não entraremos em reflexões sobre a espécie em questão. Isto deve ser abordado em outro texto. Voltemos à fisiologia do grupo...)

Pode-se pensar que esta frágil espécie corre sério risco de extinção. Mas não exatamente. Não se sabe ao certo o porquê. Talvez por não haver predadores. E é aí que chegamos a um ponto crucial. Sem ser presa, a espécie tão sensível se tornou predador. Não de uma ou algumas espécies como acontece na cadeia alimentar, mas de todas. Inclusive dela própria. E o que é mais interessante; não matam apenas para comer.

Preocupada em viver bem e manter sua aparência - algo muito importante para a vida em bando e a conquista de parceiros – a espécie começou a procriar cada vez mais tarde, chegando a parar de procriar. É espalhada por todo o globo e em todo ele utilizou-se da natureza sem nenhum limite. Hoje percebe o quão problemático isso se tornou.

Logo ela, uma espécie tão dependente, está matando seus recursos e, pela primeira vez na história da natureza, um animal pode causar sua própria extinção. Ferido por eles, o planeta e as outras espécies ficaram muito debilitados. Mas se esta espécie for extinta, decorrido alguns anos, estudiosos crêem que tudo voltará ao seu devido lugar. Já dizia o ditado; “morto o bicho, acaba-se a peçonha”. A natureza consegue se refazer sozinha, mas não conseguirá refazer a antiga espécie. Coitados, tão frágeis. Os seres mais dependentes de toda a natureza - em todos os sentidos que a frase pode ter. Os seres humanos.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Pensamento...

(...)

"Isso não lhes embrulha o estômago; já estão habituados... A princípio, deixaram cair a sua lágrima; depois, com o tempo, veio o hábito. O homem é patife, conforma-se com tudo"
(Pensamento de Raskólnikov em "Crime e Castigo", Dostoiévski)

domingo, 11 de maio de 2008

Auto-promoção

http://www.uff.br/enfoque_uff

Notícia de estudante da UFF, para estudante da UFF (ou aspirante a...).

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Os ombros suportam o mundo...

Chega um tempo em que não se diz mais: Meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.

Tempo em que não se diz mais: meu amor.

Porque o amor resultou inútil.

E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.

Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.

E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo

e ele não pesa mais que a mão de uma criança.

As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios

provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo

prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Carlos Drummond de Andrade